quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

MEMÓRIAS DA DONA DIDI – SEGUNDO CADERNO – PARTE FINAL



Didi, em 25.11. 1996.
8.11.1997

Quando retornei ontem a meu apartamento, após a quinzena em Salvador, a minha passadeira Maria já estava me esperando para fazer-me companhia. Meus filhos haviam assentado para eu ir almoçar na casa do Air. Esta é a data em que sempre comemorei o meu aniversário, apesar de, há poucos anos atrás, eu haver descoberto que nasci em 15 de julho.

09.11.1997

Hoje comemoramos o meu natalício na casa do Júnior. Cada filho levou um prato e o almoço foi ótimo! Meu Deus, o que será de mim? Clélia, Celina me deram presentes e Sônia me deu uma torta, Bené, uma corbeille de flores. Que Deus me ajude e faça com que a aposentadoria do José que encaminhei ao INSS seja resolvida para mim. Também, se o José tiver direito ao seguro da SINCOR, ajude ao senhor Marcos a arrumar isto para mim. Ainda, os seis mil da poupança do José, que eu tenha direito a ela. Estou numa penúria, não sei o que devo fazer, minha cabeça não consegue planejar nada, só sinto falta do José... Vim da casa do Júnior para o meu apartamento no Trianon, estou sozinha, esperando pela Maria.

10.11.1997

Hoje veio outra moça chamada Maria para morar comigo e me ajudar no serviço doméstico. Convivi por vinte e um anos com o José sem empregada. Foi uma vida organizada, sem problemas com terceiros. Eu dei conta do serviço da casa e atendi ao José em tudo que ele queria. Quando viajávamos de carro para Caldas Novas, Araxá ou para trabalhos espirituais, eu vigiava tudo, lia placas e descascava maçãs, partia biscoitos e bolachas para dar a ele enquanto ele dirigia o carro. Fazia companhia para ele em tudo!

26.11.1997

Didi e neta Fábia, 1990.
A minha vida tem sido amarga nesses dias. Tenho ido à casa da Celina, da Sônia, do Júnior e Regina tem-me levado à pirâmide algumas vezes. Estou à mercê da Espiritualidade. Ontem comprei castanha portuguesa e me lembrei do José. Ele gostava tanto! Também comprei dois panetones para o Natal... Ah, meu Deus, o que será de mim? Espero que Deus me ajude, não peço esquecimento dele, mas peço a Deus para me tirar este sentimento de angústia, de solidão e a saudade bruta que tenho de meu José. Preciso cumprir os meus dias restantes aqui neste orbe. Peço a Deus que encaminhe o José para que ele seja muito feliz onde estiver.

08.12.1997

Maria Luiza, Renata, Bart, Shirley, Júnior chegaram hoje da Holanda e levamos todos para a casa da Celina. A vida tem sido de muitos afazeres. Tenho feito sobremesas, bolos, gelatinas e levado para eles. Fiz questão de estar sempre com a Luiza, mandei fazer um banheiro na suíte que ficou mais de mil reais. Empreitei o reboco, o telhado e um pedaço de piso que faltava na garagem e na área. Tudo ficou acima de quatro mil reais. Tenho estado sempre presente na casa da Celina, junto com Luiza e Renata. Juninho não gosta de mim, não sei o que ele pensa. Talvez sejam problemas de existência anterior. No dia 20, fiz uma peixada para todos e levei para comermos juntos na casa da Celina. Todos gostaram e elogiaram muito!

16.12.1997

No dia dezesseis foi a inauguração da loja da Luiza e da Sônia e foi muito bonita a festa... Passamos a noite de 24.12 todos juntos no apartamento da Clélia. Fiz um peru que a Clélia nos trouxe a pedido da Luiza e ficou muito gostoso. A Luiza ensinou colocar toucinho e papel laminado e ficou muito bom. Fiz ainda uma maionese e não sobrou nada.

25.12.1997

Didi com filhos pequenos, Marco e Regina, 1951.
Ontem passei a noite com taquicardia e hoje também. Melhorei e fui para casa da Celina ficar um pouco com a Luiza. Renata chegou às 9h da manhã. Às 14h fomos para o aeroporto levar todos para embarque rumo ao Rio de Janeiro, onde ficarão em excelente hotel. Dia 28 retornarão para a Holanda onde residem.

Ganhei de Natal um porta-retratos da Sônia, uma linda embalagem com bananas secas da Regina e 150 dólares da Luiza e um perfume da Flávia, amiga secreta.

27.12.1997

Hoje às 17 h a Bebé, minha cunhada, me telefonou, exatamente dois meses e 17 dias após a morte do José.

31. 12.1997ri

Preferi ficar em casa e fazer o culto evangélico às 23h, acender velas e vibrar para o Zezé. Todos os filhos me convidaram para acompanhá-los, mas eu não quis sair.

1.1.1998

Didi com amiga Elzinha, em Salvador, 1997.
Júnior e eu fomos a Ribeirão Preto visitar o Marco Antônio. Saímos de Goiânia às 5 h da manhã e chegamos lá às 15h. Marco mora agora na Rua Cerqueira César, nº 78, em pequeno apartamento no centro. Fomos à casa do Bruno e da Fernanda. Eles são muito bons! Fui ao Cemitério da Saudade e acendi muitas velas. Passeamos e conhecemos parte da cidade. Voltamos no dia 3/1/98, e chegamos às 19h.

27.1.1998

A vida está muito difícil. Maria, minha empregada, é muito sem juízo. Usa meu telefone para toda baboseira. A conta vem imensa. Comprei as coisas de que ela necessitava, roupinha de bebê, camisola e todas as coisas. Depois arranjei a maternidade e ela foi dar à luz. Criatura sem sentimentos. Fez muito abuso aqui. Sujou no prato que comeu!

Hoje fui ao Dr. Nardelli, especialista em olhos, no setor oeste. Ela falou que preciso operar a vista.

Dia 15 de janeiro passei em Caldas Novas. Fui sozinha, queria passar o aniversário de 21 anos de minha união com o José e achei louvável estar sozinha.

5. 6.1998

A vida tem sido difícil de suportar com tanta solidão. Minhas filhas me convidam sempre para almoçar com elas... Dormi quatro noites no apartamento da Sônia, mas retorno sempre ao meu lar. Todos os meus filhos são ótimos, mas não devo dar trabalho, tampouco preocupações para eles. Tenho ajudado o Marco, o Júnior e a Clélia. É muito pouco o que posso fazer, mas faço com amor e boa vontade.

7.6.1998

Didi na Creche Casa do Caminho, 1995.
Hoje Bebé, irmã do José, me telefonou novamente. O Dantas, outro irmão do José também morreu de câncer no fígado. O motivo de ela me ligar foi para avisar que a Walquíria, a filha torta do José quer requerer herança. Fiquei abismada. José sempre morou no era meu; o carro, o telefone, fui eu que lhe dei. Não tem nada no nome dele... Tenho que tomar precauções.

10.6.1998

Resolvi dar a escritura de doação do apartamento 62 do Edifício Drogasil para a minha filha Luiza. Telefonei para ela avisando para que ela me mandasse 2 mil dólares para o pagamento da escritura. Falei com o Aparecido do cartório e ele fez tudo direitinho, reservando o usufruto para mim. Queria doar para um neto, mas e os outros? Minhas filhas concordaram com isso, porque ela ficou com menos na primeira doação.