Regina e suas orquídeas. |
A data de Finados é dedicada a homenagear
nossos mortos. Recentemente assisti a uma parada no Rio em que as pessoas
desfilavam vestidas a caráter representando zumbis de sua preferência. As
gerações anteriores simplesmente costumavam homenagear seus mortos visitando os
cemitérios reverenciando-os com flores e orações.
A morte é um dos temas mais
controversos para nós, seres humanos. Nosso ego que é o núcleo da consciência traz
ferramentas de controle e organização da realidade. Isso é importante e até mesmo positivo.
Entretanto, quando ele se depara com a morte, a falta de garantias e certezas desestabiliza
o ego e dessa maneira somos forçados a buscar algum sentido, alguma
referência
que diminua a nossa ansiedade e o medo.
Aleixo, Regina, Renata, Clélia, Chantale. |
Seja pela arte, pela música e
principalmente por meio dos rituais, o ser humano expressa criativamente sua
angústia sobre o mistério da vida e cria soluções simbólicas e emocionais, a
fim de criar referências que o confortem de forma mais ou menos duradoura. Por
essa razão, as religiões têm tantos seguidores e cada vez mais novas religiões
se constituem e se adaptam ao mundo atual. Na Psicologia Transpessoal tive a
oportunidade de participar do workshop da Serra da Portaria que organiza um
ritual simbólico ligado à morte, à vida e à transcendência.
A querida Helga mudou de andar em 2003 |
A cessação do misterioso e
incontrolável fato da vida é aterrorizante para uns e motivo de alívio para
outros. Sim, porque a morte é um fato da vida. Isto é, nós a conhecemos e
sabemos de sua inevitável existência, ainda que não a tenhamos experimentado de
forma objetiva e concreta.
E por mais que busquemos
conhecer, nossas ideias sobre o assunto sempre serão muito individuais e
singulares, mesmo quando são modeladas por alguma religião. As diversas religiões
tratam da morte sob diversos enfoques e partindo de premissas diferentes,
muitas vezes até opostas entre si, como as crenças que aceitam a reencarnação e
as crenças que aceitam o processo de ressurreição e vida eterna no pós morte.
Flores na Shamballa. |
O papel social das religiões
sempre foi tecer uma linha de sentido para a morte, mas nem sempre esse caminho
tem sido suficiente ou satisfatório. A própria palavra desperta o medo no
coração das pessoas. Elas consideram a morte tão incompreensível quanto
inevitável. Mal conseguem falar a respeito, perscrutar além da palavra em si e
se permitir contemplar suas verdadeiras implicações.
Essa é uma reação compreensível,
pelo fato de que tantas pessoas pensam sobre a vida como nada mais que um
estado no qual o corpo humano está biologicamente ativo.
Mas é hora de nos
perguntarmos: o que acontece após a morte, se é que acontece? O que a morte
realmente significa? Como aqueles que sobrevivem aos entes queridos devem
reagir?
Lu, Marcos Loyola e Otávio, 11.08.2013 |
O mistério da morte é parte do
enigma da alma e da vida em si: entender a morte significa realmente entender a
vida. Durante o período da existência carnal, o corpo é vitalizado pela alma;
na morte, ocorre uma separação entre o corpo e a alma. Porém a alma continua a
viver como sempre fez, então, livre das restrições físicas do
corpo. E como o
verdadeiro caráter da pessoa – sua bondade, virtude e altruísmo – estão na
alma, é lógico presumir que ela ascenderá a um estado mais elevado após cumprir
suas responsabilidades na terra.
Dona Didi antes do desencarne. |
A Física moderna nos ensinou que
nenhuma substância realmente desaparece, apenas muda de forma. E há muita morte
acontecendo ao nosso redor no dia a dia. O grande problema é que nunca fomos
ensinados a falar sobre morte, a pensar e usar a morte certa como sentido da
vida. Em vez disso, aprendemos a temer a morte, a nos apegarmos ao nosso corpo
que, muitas vezes, é dirigido por convenções sociais que nem fazem tanto
sentido assim para nós.