sexta-feira, 20 de agosto de 2010

DEPOIMENTO DE AIR GOMES DE MOURA – Presidente do C. E. Irmãos do Caminho







Air e Didi, 1986
Conheci a Dª Didi em uma situação peculiar. Não conhecia nada do espiritismo, entretanto, já estivera em Congonhas com o Zé Arigó. Isto ocorreu quando entrei em contato com a realidade espírita. Naquela ocasião trabalhava conosco Isorico Godoi que já conhecia a doutrina espírita e freqüentava o centro. Ele me convidou para tomar passes e fomos ao CEIC, à Rua 8 “A”, no Setor Oeste. Sentamos no centro da platéia e fomos surpreendidos pela voz grossa do irmão Emídio, que me chamou:

- Irmão Air, o mentor quer falar com você!

Ninguém me conhecia, exceto a irmã Didi que estava incorporada, mas me disseram que há muito tempo eu era esperado para desenvolver a mediunidade. Após este encontro tornamo-nos conhecidos e fui incluído no grupo mediúnico da casa. Naquele tempo, a doutrina espírita e, principalmente, a Umbanda, era considerada como práxis diabólica por muitos, geralmente praticada por elementos irresponsáveis ou de má índole. Com o espiritismo e por intermédio de médiuns como a Dª Didi, o sentido divino dessas duas doutrinas se fundem no mesmo princípio: amor, fraternidade, caridade.

Air e Regina, no CEIC
Falar da Irmã Didi como médium é falar da mediunidade em todas as suas faces. Receitista, médium de efeito físico, intuitiva, psicógrafa, vidente, psicofônica, médium de desdobramentos e de efeitos físicos, entre outras. Para falar da mediunidade de efeito físico assistimos por reiteradas vezes ao efeito da materialização de objetos, rosas, transporte a distância; na área de cura, assistimos, por muitas vezes, à materialização de tecidos, inclusive o cancerígeno, retirados dos órgãos afetados de diversos pacientes. Muitos dos quais com o odor característico da putrefação. Vimos extasiados, uma vez, materializados em suas mãos, em um trabalho de umbanda, ovos fresquinhos de codorna colhidos em plena mata.

O convívio com a irmã Didi era um ensinamento vivo a todo instante, pois ela estava sempre recebendo mensagens escritas ou psicofônicas de espíritos situados em outros planos. Verdadeira discípula do Cristo, porque não havia hora em que ela não estivesse pronta a atender a qualquer chamado de urgência, fosse para a cura ou libertação espiritual, o que fazia em detrimento de seu próprio descanso ou da convivência doméstica. Não esquecendo o pioneirismo implantado na cidade de Goiânia e arredores, pois o CEIC funcionou sempre como escola, além de hospital e oficina. Local em que se aprende até hoje o exercício mediúnico como função de vida.

Várias edificações físicas marcam este propósito, assim como uma nova sede para a entidade, construída no setor marista, uma creche edificada no Jardim América que se desdobrou em escola, ao lado da Casa do Caminho - Centro de Convivência do Idoso, não esquecendo o templo do culto à Umbanda, junto à natureza, realizado na chácara da Instituição, em Senador Canedo.

Todas as atividades aqui descritas continuam em pleno funcionamento, como atestado do trabalho incansável de Dona Didi em benefício da doutrina, agora realizado por seus seguidores.

Depoimento da irmã Zuleica Gomes Pires



Zuleica Gomes Pires, 2010.
Iniciei meu trabalho no C. E. Irmãos do Caminho em 1975, quando meu filho tinha apenas 4 meses. Comecei sentindo uma manifestação dos espíritos. Meu pai me levou para conversar com Dª Didi que morava, à época, na Avenida Assis Chateaubriand, no setor oeste.

Fui orientada para freqüentar o CEIC. Dª Didi me dava muitos esclarecimentos, ia visitar o meu pai e eu tive muito contato com ela. Eu costumava preparar lanches na parte da tarde para recebê-la em nossa casa. Ela recebia uma entidade a quem chamávamos de Mãe Francisca, com a qual eu tinha muita afinidade e adorava conversar.

Meu pai doou sempre a sua aposentadoria para a Creche, desde a primeira parcela. Ele desencarnou no último ano e se chamava Célio Pires.

Eu trabalhei muito em benefício da creche, fazendo almoços beneficentes, durante muito tempo, junto com a Mariazinha e a Dona Didi. Trabalhávamos também para angariar fundos para o Natal dos pobres. O senhor José Nascimento, segundo esposo de Dª Didi, era muito amigo de meu pai.

Minha mãe – Catarina Gomes Pires - tinha verdadeira adoração pela Dª Didi. Ela desencarnou em 93. Ela sempre pedia auxilio à espiritualidade, sobretudo à entidade denominada Dr. Fritz, por meio de Dª Didi.

Eu pertenço ao quadro de médiuns do C. E. Irmãos do Caminho há 35 anos. Antigamente a assiduidade era diferente, médiuns estavam presentes ao menos 3 vezes por semana. Eu levo muito a sério a tarefa que recebi de desenvolver a mediunidade em benefício do próximo.

Antes do desencarne de Dª Didi, todas as quintas feiras, havia um grupo de médiuns que ia à sua residência ministrar-lhe passes: Air, Rosa Lya, Jenecy, Elcyr, Zuleika, Torres, entre outros.

Quanto à parte social, coordeno a Obra do Berço desde que Dª Didi se afastou do centro. Antes eu já auxiliava a Dª Didi na obra do berço, junto com Dª Nair.

Também organizo as palestras, desde que Dª Didi se afastou. Fiz uma promessa a mim mesma, desde o nascimento de meu filho, de que não deixaria da obra do berço e tenho conseguido cumpri-la.

Dª Didi desenvolveu todos os tipos de mediunidade e eu era encantada com isso. Eu tive formação católica e, no início, tudo era uma descoberta.

Lembro-me das entidades com quem Dª Didi incorporava para os trabalhos de cura e desobsessão: Pantera, Emmanuel, Umulu, Mãe Francisca, Ramaiara. Os trabalhos de materialização eram indescritíveis. Como explicar aquela energia tão sutil?! Eu me sentava perto da Dª Didi, durante aqueles trabalhos e era tudo maravilhoso.

Também aprendi muito nos trabalhos externos. Participei da maioria ao longo de mais de três décadas de convivência com aquela médium excepcional.

Assisti a muitas curas. Inclusive à cura de minha mãe. Era uma quarta-feira. Minha mãe estava mal naquele dia. De repente, chega lá em casa um grupo de médiuns, acompanhados pela Dª Didi. Eles tinham recebido ordem de dar assistência ao nosso lar. Depois do passe, ela melhorou! Estas pequenas coisas nos mostram a existência da espiritualidade maior que está ao nosso lado quando a gente mais precisa. Isso é maravilhoso.

Lembro-me ainda de que, uma vez, a Dª Didi disse a meus pais que eles estavam juntos há várias existências. Enquanto estive ao lado de Dª Didi eu me esforcei sempre para ser-lhe útil e continuo a doar o melhor de mim mesma à espiritualidade maior.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010



DEPOIMENTO DE ABADIO DE ALMEIDA E SILVA - Parte I



Abadio, 18.08.2010
Vim para GYN em dois de dezembro de 1949. Morava no interior antes disso. Minha mãe era parteira e veio ajudar no nascimento de meu sobrinho, filho de meu irmão Salvador e de minha cunhada Bárbara que tiveram um filho em 11 de dezembro de 1949. Eu queria estudar e, para ingressar no antigo Ginásio, era necessário fazer o admissão. Assim vim morar com eles e freqüentei o colégio do Professor Múcio. Meu irmão e minha cunhada já freqüentavam o Centro Pai João.


Didi, na Holanda, em 1989.

Vi Dona Didi na Tenda do Caminho, na década de 50, trabalhando com Dr. Fritz. Bárbara e Salvador eram seus auxiliares. Portanto, foi na Tenda que conheci a Dona Didi. Também outros grandes médiuns: Romeu Pelar, que era deficiente visual, José Carneiro, Salvador, Bárbara, Colombino Augusto de Bastos que, então, morava na Rua 23, no centro de Goiânia, Periano e Dona Vanda, entre outros.

Estudei no Ateneu e tive formação católica. Em 22 de novembro de 62 houve a separação da Tenda, sendo criado o Centro Espiritualista Irmãos do Caminho. Mas só me tornei espírita em 1965.

Apesar da convivência com minha família, eu relutava em assumir o espiritismo. Um dia, tive que levar a prima Terezinha dos Santos ao centro chamado A caminho da Luz, do senhor João Batista, onde havia também uma creche.

Quando cheguei ao centro o senhor João me chamou à frente. Disse que havia uma entidade muito forte, com muita autoridade e esta me pedia um favor. Eu devia ler um trecho de um livro espírita e voltar lá para comentá-lo na segunda feira. O livro que selecionei com a ajuda de Bárbara foi Jesus no Lar e a lição – Dá de ti mesmo. Item, 10.

Depois disso fiquei apreensivo, estava com medo... No dia marcado, fiquei aguardando e só fui chamado na segunda parte quando me avisaram que eu teria que voltar na próxima quarta.

Fiquei ansioso pelo que aconteceria. Então, no dia indicado, durante a parte de incorporação, fui chamado por uma entidade e esta falou comigo:

- Abadio: “Vou lhe dizer uma coisa. De hoje em diante a sua vida vai mudar. Sei que você vai cumprir, mas se não o fizer, vai virar lama”. Ela falava alto e com muito autoridade. Mais tarde soube que era Mestre Carlos. Disseram-me ainda que eu havia sido um general francês em encarnação anterior.

Continuava ligado às mocidades espíritas. Fundei a Mocidade Caminho da Luz e outras do Bairro Popular.

Eu adoeci em 67, Salvador era o vice-presidente do CEIC e, com a doença do senhor José Araújo, meu irmão assumiu a presidência. Aconselharam que eu fosse consultar o Dr. Fritz e eu fui lá tomar um passe.

Em vez da receita que todos recebiam, recebi uma mensagem que guardo até hoje.

“Filho, não desprezeis o melhor dom que Deus lhe deu. Pedi permissão ao mentor desta casa para colaborardes na obra mediúnica e doutrinária. Paz em Jesus.” Creio que a mensagem era de Bezerra de Meneses pela característica do fecho e por compará-la com outras da época, mas não foi assinada.

Depois que recebi essa mensagem, o mentor me chamou incorporado com Dª Didi e me deu autorização para que eu usasse branco. Mas tinha que decidir qual instituição deveria freqüentar. Era um verdadeiro problema de consciência. O trabalho com a mocidade espírita me empolgava e eu já freqüentava o outro centro do João Batista.

O uniforme branco ficou pronto logo e na semana seguinte passei a ir também ao C. E. Irmãos do Caminho. Muitos me diziam que eu não podia misturar linhas, mas consultei a espiritualidade e me disseram que devia ouvir o meu coração. Dividi o meu tempo entre as duas instituições e freqüentando o C. E. Irmãos do Caminho e descobriu-se que eu tinha efeito físico.

Abadio em sua residência
A partir daí fui tesoureiro do CEIC por 34 anos. Houve outros colaboradores, mas apenas entreguei a função em 2000, para o atual presidente Air. Durante as três décadas em que Dona Didi dirigiu a parte espiritual, eu também participei de vários trabalhos, além da mocidade.

Dª Augusta, do núcleo Amor e Caridade, inicialmente, depois, do CEIC, sua filha e o Humberto Ferreira foram meus instrutores. Trabalhávamos também junto ao Hospital do Pênfigo. Minha energia era tanta quando dava passes que adormecia os doentes. Tive desdobramentos várias vezes.

Lembro-me de que uma vez o espírita Múcio Teixeira perguntou a Dr. Fritz sobre sua identidade e ele respondeu que na Alemanha esse era um nome comum, mas uma vez ele assinou Adolf Fritz.

Eu tinha visões, desdobramentos que narrarei gradativamente. Via sempre uma cidadezinha da Checoslováquia, mais tarde identificada como Causbach. Aparecia uma casa bonita, um rio, o campo de aviação, a fachada de madeira, a escada, detalhes interiores... O mentor me disse que um dia me contaria as nossas andanças pelos templos de Carná e de Salomão... O médium Wilson Fleury também efeitos físico e nós dois ajudávamos a Dª Didi nos trabalhos de materialização e nos desdobramentos necessários.

Minha mediunidade foi desenvolvendo cada vez mais e participava de todos os trabalhos. Lembro quando alguém chegou mal e após o trabalho de cura, tirou a muleta, voltando são para casa. As sessões com Ramayara eram raras e poucos eram admitidos ali. Ao terminarem, a gente se sentia tão leve que parecia que sairíamos voando. Nossa aura transmutava e a gente sentia uma energia difícil de ser descrita. O médium Derli e sua esposa eram meus compadres. Ele também trabalhou como cambono muito tempo. Uma vez ele foi operado, sendo extraído um pedaço de seu cérebro que foi desmanchado e materializado sob o testemunho de todos nós.

Houve uma senhora cujo marido era médico. Ela foi submetida a uma cirurgia na cartilagem da Válvula Mitral. Esta senhora morava na Rua 84, perto do Clube Social Feminino. Dr. Fritz pôs as mãos de seu marido sobre o local e ele viu a extração acontecer em poucos minutos. Ela foi curada com a bênção de Deus.

Abadio e Regina, 2010.
Havia outro casal que não podia ter filhos. Eles trataram com o Dr. Fritz. Ela conseguiu engravidar com sucesso. Apesar do Fator RH, tudo deu certo, e a criança nasceu sem problemas. Depois eles adotaram outras crianças, gratos pela graça recebida.

Um cardeal desencarnado, um casal que havia sido padre e freira noutra encarnação,  foram objetos do último trabalho daquela noite... A esposa do senhor Clairmont havia sido mulher do cardeal em existência anterior. O espírito não aceitava que agora ela estivesse unida a outro homem, seu atual marido, que também tinha sido um padre na outra vida. O cardeal o obsedava e ele tinha problemas cardíacos. Sua saúde foi resgatada após o trabalho de desobsessão em que o espírito do cardeal se manifestou por meio de Dª Didi. Não foi fácil. O espírito se comunicava com segurança, sarcasmo, menosprezando a todos, como se fosse superior. Eram 12 médiuns e a entidade perguntou de um a um “quem tinha amor para dar”. Todos tentavam doutriná-lo em vão. Eu era o 12º. De repente, comecei a falar inspirado e nem eu mesmo sabia o que estava fazendo, mas respondi com firmeza que eu tinha amor para dar, inclusive para ele, a entidade soberba.

Em meio ao trabalho, eu visualizava imagens de um recinto religioso de alto nível, talvez o Vaticano e os mesmos personagens que estavam ali no centro, naquele momento, protagonizando dramas que as mantinham ligadas através do tempo. Depois de minha fala, altamente erudita, de repente, a entidade incorporada em Dª Didi caiu ajoelhada ao chão e bradou me reconhecendo:

- “Lupércio, meu pai!”

Parece que eu havia sido seu genitor no passado! Permaneceu em pranto aos meus pés e aceitou a doutrinação, enfim. O instrumento – Dª Didi - precisou ser amparado pelo senhor Dimas que era o cambono e o senhor Antônio, então, o presidente do centro. Ela demorou muito a voltar à consciência naquele dia... Tampouco houve o encerramento convencional naquela reunião. Todos choravam ao sair e o paciente curou-se definitivamente de seu problema cardíaco.

Talvez a médium Elcyr possa relatar outra experiência quase divina com que fomos agraciados. Dª Didi incorporou com aquela que seria a alma gêmea de Emmanuel e a energia que desfrutamos nem pode ser narrada... Foi algo indescritível!

Lembro-me, ainda, que um dia fui levado a uma chácara, às 5 h da manhã, para um trabalho em meu benefício. Minha mediunidade se expandira de tal forma que precisaram fechar a minha cabeça. Eu estava permanecendo em perene desdobramento e isto estava atrapalhando o meu trabalho e o dia-a-dia.

Como espírita, nunca vi médium que se igualasse a Dª Didi. Ela desenvolveu todos os tipos de mediunidade e realizou trabalhos de cura e libertação que descreverei aos poucos...


Fim da primeira parte.
DEPOIMENTO DO FILHO JOSÉ ARAÚJO JÚNIOR




Júnior, Didi, 1955.
Sempre disseram que os filhos do sexo masculino têm maior ligação com as mães. Isso aconteceu na minha vida! Tive a bênção de ter como mãe Geraldina de Araújo – Didi – e a nossa convivência sempre foi muito especial! Ela foi a super mãe com quem pude contar sempre. Sua capacidade de amar era infinita! Tinha sempre muito amor em seu coração para dividir com os filhos, os irmãos de fé, os enfermos, os necessitados! Minha mãe será sempre a pessoa mais importante de minha vida! Desde criança ela foi meu ponto de apoio. Lembro-me de que aos quatro anos fui pegar o pão na caixa elétrica do alpendre e tomei choque, ficando gago durante algum tempo. Meu pai não tinha paciência com minha gagueira e minha mãe sempre me defendia. No centro disseram que eu havia sido alemão, desencarnado na última guerra e isso comprometia a minha comunicação. Tratei-me com o Dr. Fritz por bastante tempo e me curei completamente.


Com 11 anos fui para o Educandário Frei Leopoldo, em Hidrolândia, mas era um seminário, perceberam que não tinha vocação e voltei ao final do ano. No ano seguinte fui estudar em Silvânia, no Ginásio Anchieta, onde permaneci até os 16 anos. Meu pai já havia falecido nessa época. Passaram-se mais dois anos e fui para o exército. Minha mãe levantava de madrugada para arrumar o café para mim. Exceto os dias em que eu estava de serviço, voltava para casa à noite, trazendo as fardas para serem lavadas. Saí do quartel, voltei a estudar e, no cursinho, conheci minha primeira esposa com quem tive os dois primeiros filhos.


José Araújo Júnior, 18.08.2010.
Durante os sete anos em que fiquei casado, não tive muito contato com minha mãe. Eu trabalhava muito, morava longe e minha esposa esteve sempre doente, vindo a falecer prematuramente, deixando meus primeiros dois filhos - Amaro e Aline - com 05 e 06 anos respectivamente. Então, voltei a morar com minha mãe e o senhor José por alguns meses.

No ano posaterior, casei-me com Eurípedes Terezina. Ela morava na Creche junto com a zeladora da instituição. Temos mais duas filhas. Hoje todos estão formados e duas de minhas filhas casadas já me deram netas.

Freqüentei o CEIC como médium durante alguns anos, juntamente com minha esposa Terezinha e meu filho Amaro. Tê atuou também como coordenadora da Creche durante algum tempo. Nós nos afastamos com a saída da mamãe em 97. Minha mãe sofreu muito com este afastamento e isto se agravou com o falecimento de seu companheiro no ano seguinte.


Didi, Tê, Júnior, Luciana e Aline (netas), 1985
Era o ano 2002. Estávamos preocupados com o fato de mamãe morar sozinha e todos os filhos que moram em Goiânia ofereceram a sua casa! Ela escolheu a minha e pude lhe dar assistência diária e noturna até os seus últimos suspiros.

Aconteceu assim... Um dia fui visitar minha mãe após a sua saída do centro e a morte de seu companheiro José Nascimento Dantas. Ela estava muito sozinha e descia de seu apartamento para conversar com o porteiro do Edifício Trianon. Eu a convidei para vir morar comigo, ela aceitou imediatamente e, uma semana depois, veio para minha casa onde ficou até seu desencarne.

Ela partiu para o mundo espiritual em meus braços, no Hospital Jardim América. Seu cardiologista nos avisou na quinta feira que nada mais haveria a fazer. Restava à família decidir se ela iria para a UTI ou permaneceria no apartamento com os recursos necessários e a assistência dos filhos e amigos. Foi esta a nossa escolha! Ela mudou de plano no domingo à noite, dia 13 de fevereiro de 2005.

Tive muito dificuldade em aceitar a sua partida. Tinha me habituado a passar o tempo todo dando-lhe assistência: carinho, alimentação, necessidades de higiene. Ela exigia a minha presença o tempo todo e a sua falta me fez sentir um vazio terrível. Felizmente, o tempo ameniza todas as dores, mas como ela me faz falta!




Hoje rezo para ela estar em um bom lugar. Sonho muito com ela. Dois dias após a sua partida, ela veio à janela de meu quarto à noite se despedir de mim. Apareceu com alguém de branco que a amparava e me acenou sorrindo enquanto se afastava...

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Depoimento do neto Leandro Araújo Moura

Didi no aniversário do Leandro, 1978
Minha avó sempre me dizia, me chamando de “Leandim”:  - “Que Deus lhe proteja e lhe
guarde!” Fazia bolinho de chuva, polvilhado de canela, frito na hora, pra gente comer com mel nas tardes de domingo em seu pequeno apartamento. Era um mel aquela senhora, autoritária por espírito e pelas circunstâncias, claro, mas um doce! Uma matriarca. Com todo o poder e a ternura que cabem a uma pessoa que ocupa este lugar.


Leandro e esposa Monique, 16.01.2009.
Quando pequeno, bem pequeno ainda, lembro-me de ter dormido vestido e de tênis nos pés pra não me atrasar pra levantar e correr o risco de não ir pra “Cachoeira”. A Cachoeira, pra mim, o supra-sumo do contato com o sobrenatural, a espiritualidade na prática. Dona Didi, a comandante daquele batalhão de umbandistas. Gente que passava dias à procura de um lugar com uma boa queda d’água pra realizar o ritual mais importante do ano. Levantávamos antes das 5 da manhã e rumávamos pro mato. No fim do ritual, ainda bem cedinho, o banho gelado na cachoeira (depois coroado pelo seu pirão de peixe, que de tão bom, nunca mais vi outro igual)! Lembro-me bem dos dedinhos molhados do pé da minha avó, apertados naquela sandália de plástico branco, meus tremores de frio, a água gelada e sua voz ecoando em tom firme: “seja um bom filho, bom pai, bom marido...”


Vovó Didi e Vovó Argemira, 1995.
Assim viveu, buscando orientar a todos. Com todas as suas virtudes e toda a sua humanidade. Pra maioria dos que a conheceram, uma grande médium. Pra mim também, mas, sobretudo, uma pessoa que teve durante toda a sua vida a vocação de cuidar, a consciência de que o tesouro da vida são as próprias pessoas e o entrelaçar dessas vidas, tecendo o próprio viver.


Onde você estiver, minha querida avó: “Que Deus lhe proteja e lhe guarde!”


De seu saudoso neto.


Leandro Moura






domingo, 15 de agosto de 2010






MEMÓRIAS DA DONA DIDI – 8ª ETAPA



Didi e José Nascimento Dantas, 1990


Capítulo XXXIV – Encontro de Almas



Era o ano de 1976. Encontro de almas... Ele aportou no Centro Espiritualista Irmãos do Caminho! Fiquei conhecendo José Nascimento Dantas, era uma pessoa que, mesmo tão diferente de mim, parecia um pedaço de minha alma. O ideal das criaturas é formar um novo lar, uma semente de Deus que nos dê forças para continuarmos a jornada.

José Nascimento Dantas, essência das almas puras, não teve oportunidade de aprender a ler e a escrever nesta vida, as lições mais rudimentares da educação formal. Porém, alma boa, muito espírita, cumpridor de suas obrigações, simples e humilde que me ajudou e me ensinou muitas coisas. Foi um companheiro que cumpriu à risca o que lhe era destinado... Em 15 de janeiro de 1977, nos unimos pelos laços do matrimônio. Esta união duraria 20 anos de troca e alegria compartilhada!

- Didi, o que seria de mim sem você? Dizia ele sempre.

Celina, Dª Maria, DIDI e José Nascimento
Nas segundas, quartas e sextas íamos para o Centro Espiritualista Irmãos do Caminho. Nas quintas e domingos fazíamos o culto evangélico do lar. Ele me acompanhava sempre nos trabalhos externos de cura, na assistência a irmãos ou outros enfermos.

Ajudou-me na missão da Creche Casa do Caminho, enfim, foi um companheiro de todas as horas ... Mudamos dez vezes neste período de vinte anos de convivência. E na última vez que voltamos para o nosso apartamento do Edifício Trianon, ele pediu-me:

- Didi, fiquemos aqui, agora. Daqui só saio para o Cemitério Santana. Foi realmente isto o que aconteceu.



Capítulo XXXV



Didi, Elzinha, Maria Antonieta Alessandri, Air,


no casamento da filha Clélia, 1976.
José, as gêmeas e eu morávamos na T- 30, no Setor Bueno, no ano de 1977. Todos os outros filhos já estavam casados e seguindo as suas vidas. A vida corria normalmente. No dia 28 de julho de 1978, aconteceu o casamento da sexta filha - Maria Celina. Clélia Maria casara-se com Adevaldes em 1976.

Eu assisti à chegada de todos os meus netos. Fiz esforço de estar sempre presente nas horas necessárias. Oro e peço a Deus diariamente por todos eles... Todos os meus filhos são a razão de minha vida. Foi muito difícil coordenar a vida junto com José Nascimento e meus filhos, mas posso dizer que venci neste aspecto.

Didi e o neto Gustavo, em 1977
Maria Luiza foi para a Holanda atuar na área de turismo, ficou conhecendo Raymond Boerema, com quem se casou. Ela é mãe de Renata Carolina, Raymond Junior e Ângelo Rafael e continuam morando no velho mundo.

A voz sempre me diz:

- Filha, tudo é maravilhoso e divino! Existem pessoas que vêm ao mundo para servir e a sua família se chama humanidade! É o seu caso, filha, mas está cumprindo triplamente, lar, filhos e espiritualidade!



Capítulo XXXVI



José completou 81 anos no dia 5 de junho de 1996. Passamos o seu aniversário em Caldas Novas. Era nosso costume sairmos sempre em nossos aniversários. Fizemos uma festa quando ele completou oitenta anos na casa da Neuza, sua irmã que morava na Vila Nova. Ele ficou muito feliz então!

Em dezembro de 1996, José e eu saímos do Centro Espiritualista Irmãos do Caminho, pois ele já estava bem enfermo.

No dia 7 de outubro de 1997, desencarnou José, no Hospital São Domingos, na Avenida T-2. Ele ficou muito mal com câncer no fígado. Foi acabando a visão, os movimentos, não falava. Meu Deus, sofri demais com a sua enfermidade! Bebê e Lizete, suas irmãs, me ajudaram muito...

Agora são passados onze meses. Estamos no mês de setembro de 1998. Dia 7 de outubro vai completar um ano da morte do José. Permaneço do apartamento do Edifício Trianon onde ele gostava tanto de morar. Não sei o que a vida me reserva... Sinto uma solidão e uma tristeza tremendas. Parece que José levou um pedaço de mim... A saudade é imensa... Todos os meus filhos me convidaram a morar com eles, mas nada decidi ainda. Estou aqui noite e dia sempre pensando no Zezé, como eu o chamava.



Capítulo XXXVII
Dª Didi adorava os cães Ávila e Violeta, da Creche.



Prece

Então, cheia de gratidão, convocarei a imagem daquele que descalço palmilhou passo a passo os caminhos agrestes da Galiléia. Oh, Cristo, figura luminosa, que deu sua Luz aos cegos! Levantaste os trôpegos em meio da marcha, revigorando com Tua essência divina as mentes apodrecidas pelo vírus do erro e da vaidade!

Deixa que continuemos a ver-Te como quando vinhas de Cesarea abençoar as criancinhas naquela ternura infinda! Perdoa as nossas faltas, como perdoaste Maria de Magdala, levantando-a para o caminho doce e ameno da regeneração!

Do Teu manto alvo e singelo emanava Tua força e Teu poder, curando aqueles que Te tocavam! Cristo, erga as Tuas mãos hoje e sempre, convocando-nos à fé viva, pura e esclarecida, como fizeste a Pedro, mandando que ele andasse nas ondas tempestuosas do mar da existência!

Tua atitude de fé e confiança permanece em nós, nas horas atribuladas e nossas vidas, revivendo quando na cruz martirizado estavas e pudeste ainda dizer:

- Perdoa- lhes, Pai, porque não sabem o que fazem!

Cristo, nós somos, até hoje, as Tuas crianças falíveis, dentro de nossa infinita indigência!


Dedicatória de Dona Didi ao casal Elza e Celso, 1982.