DEPOIMENTO DE ABADIO DE ALMEIDA E SILVA - Parte I
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Abadio, 18.08.2010 |
Vim para GYN em dois de dezembro de 1949. Morava no interior antes disso. Minha mãe era parteira e veio ajudar no nascimento de meu sobrinho, filho de meu irmão Salvador e de minha cunhada Bárbara que tiveram um filho em 11 de dezembro de 1949. Eu queria estudar e, para ingressar no antigo Ginásio, era necessário fazer o admissão. Assim vim morar com eles e freqüentei o colégio do Professor Múcio. Meu irmão e minha cunhada já freqüentavam o Centro Pai João.
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Didi, na Holanda, em 1989. |
Vi Dona Didi na Tenda do Caminho, na década de 50, trabalhando com Dr. Fritz. Bárbara e Salvador eram seus auxiliares. Portanto, foi na Tenda que conheci a Dona Didi. Também outros grandes médiuns: Romeu Pelar, que era deficiente visual, José Carneiro, Salvador, Bárbara, Colombino Augusto de Bastos que, então, morava na Rua 23, no centro de Goiânia, Periano e Dona Vanda, entre outros.
Estudei no Ateneu e tive formação católica. Em 22 de novembro de 62 houve a separação da Tenda, sendo criado o Centro Espiritualista Irmãos do Caminho. Mas só me tornei espírita em 1965.
Apesar da convivência com minha família, eu relutava em assumir o espiritismo. Um dia, tive que levar a prima Terezinha dos Santos ao centro chamado A caminho da Luz, do senhor João Batista, onde havia também uma creche.
Quando cheguei ao centro o senhor João me chamou à frente. Disse que havia uma entidade muito forte, com muita autoridade e esta me pedia um favor. Eu devia ler um trecho de um livro espírita e voltar lá para comentá-lo na segunda feira. O livro que selecionei com a ajuda de Bárbara foi Jesus no Lar e a lição – Dá de ti mesmo. Item, 10.
Depois disso fiquei apreensivo, estava com medo... No dia marcado, fiquei aguardando e só fui chamado na segunda parte quando me avisaram que eu teria que voltar na próxima quarta.
Fiquei ansioso pelo que aconteceria. Então, no dia indicado, durante a parte de incorporação, fui chamado por uma entidade e esta falou comigo:
- Abadio: “Vou lhe dizer uma coisa. De hoje em diante a sua vida vai mudar. Sei que você vai cumprir, mas se não o fizer, vai virar lama”. Ela falava alto e com muito autoridade. Mais tarde soube que era Mestre Carlos. Disseram-me ainda que eu havia sido um general francês em encarnação anterior.
Continuava ligado às mocidades espíritas. Fundei a Mocidade Caminho da Luz e outras do Bairro Popular.
Eu adoeci em 67, Salvador era o vice-presidente do CEIC e, com a doença do senhor José Araújo, meu irmão assumiu a presidência. Aconselharam que eu fosse consultar o Dr. Fritz e eu fui lá tomar um passe.
Em vez da receita que todos recebiam, recebi uma mensagem que guardo até hoje.
“Filho, não desprezeis o melhor dom que Deus lhe deu. Pedi permissão ao mentor desta casa para colaborardes na obra mediúnica e doutrinária. Paz em Jesus.” Creio que a mensagem era de Bezerra de Meneses pela característica do fecho e por compará-la com outras da época, mas não foi assinada.
Depois que recebi essa mensagem, o mentor me chamou incorporado com Dª Didi e me deu autorização para que eu usasse branco. Mas tinha que decidir qual instituição deveria freqüentar. Era um verdadeiro problema de consciência. O trabalho com a mocidade espírita me empolgava e eu já freqüentava o outro centro do João Batista.
O uniforme branco ficou pronto logo e na semana seguinte passei a ir também ao C. E. Irmãos do Caminho. Muitos me diziam que eu não podia misturar linhas, mas consultei a espiritualidade e me disseram que devia ouvir o meu coração. Dividi o meu tempo entre as duas instituições e freqüentando o C. E. Irmãos do Caminho e descobriu-se que eu tinha efeito físico.
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Abadio em sua residência |
A partir daí fui tesoureiro do CEIC por 34 anos. Houve outros colaboradores, mas apenas entreguei a função em 2000, para o atual presidente Air. Durante as três décadas em que Dona Didi dirigiu a parte espiritual, eu também participei de vários trabalhos, além da mocidade.
Dª Augusta, do núcleo Amor e Caridade, inicialmente, depois, do CEIC, sua filha e o Humberto Ferreira foram meus instrutores. Trabalhávamos também junto ao Hospital do Pênfigo. Minha energia era tanta quando dava passes que adormecia os doentes. Tive desdobramentos várias vezes.
Lembro-me de que uma vez o espírita Múcio Teixeira perguntou a Dr. Fritz sobre sua identidade e ele respondeu que na Alemanha esse era um nome comum, mas uma vez ele assinou Adolf Fritz.
Eu tinha visões, desdobramentos que narrarei gradativamente. Via sempre uma cidadezinha da Checoslováquia, mais tarde identificada como Causbach. Aparecia uma casa bonita, um rio, o campo de aviação, a fachada de madeira, a escada, detalhes interiores... O mentor me disse que um dia me contaria as nossas andanças pelos templos de Carná e de Salomão... O médium Wilson Fleury também efeitos físico e nós dois ajudávamos a Dª Didi nos trabalhos de materialização e nos desdobramentos necessários.
Minha mediunidade foi desenvolvendo cada vez mais e participava de todos os trabalhos. Lembro quando alguém chegou mal e após o trabalho de cura, tirou a muleta, voltando são para casa. As sessões com Ramayara eram raras e poucos eram admitidos ali. Ao terminarem, a gente se sentia tão leve que parecia que sairíamos voando. Nossa aura transmutava e a gente sentia uma energia difícil de ser descrita. O médium Derli e sua esposa eram meus compadres. Ele também trabalhou como cambono muito tempo. Uma vez ele foi operado, sendo extraído um pedaço de seu cérebro que foi desmanchado e materializado sob o testemunho de todos nós.
Houve uma senhora cujo marido era médico. Ela foi submetida a uma cirurgia na cartilagem da Válvula Mitral. Esta senhora morava na Rua 84, perto do Clube Social Feminino. Dr. Fritz pôs as mãos de seu marido sobre o local e ele viu a extração acontecer em poucos minutos. Ela foi curada com a bênção de Deus.
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Abadio e Regina, 2010. |
Havia outro casal que não podia ter filhos. Eles trataram com o Dr. Fritz. Ela conseguiu engravidar com sucesso. Apesar do Fator RH, tudo deu certo, e a criança nasceu sem problemas. Depois eles adotaram outras crianças, gratos pela graça recebida.
Um cardeal desencarnado, um casal que havia sido padre e freira noutra encarnação, foram objetos do último trabalho daquela noite... A esposa do senhor Clairmont havia sido mulher do cardeal em existência anterior. O espírito não aceitava que agora ela estivesse unida a outro homem, seu atual marido, que também tinha sido um padre na outra vida. O cardeal o obsedava e ele tinha problemas cardíacos. Sua saúde foi resgatada após o trabalho de desobsessão em que o espírito do cardeal se manifestou por meio de Dª Didi. Não foi fácil. O espírito se comunicava com segurança, sarcasmo, menosprezando a todos, como se fosse superior. Eram 12 médiuns e a entidade perguntou de um a um “quem tinha amor para dar”. Todos tentavam doutriná-lo em vão. Eu era o 12º. De repente, comecei a falar inspirado e nem eu mesmo sabia o que estava fazendo, mas respondi com firmeza que eu tinha amor para dar, inclusive para ele, a entidade soberba.
Em meio ao trabalho, eu visualizava imagens de um recinto religioso de alto nível, talvez o Vaticano e os mesmos personagens que estavam ali no centro, naquele momento, protagonizando dramas que as mantinham ligadas através do tempo. Depois de minha fala, altamente erudita, de repente, a entidade incorporada em Dª Didi caiu ajoelhada ao chão e bradou me reconhecendo:
- “Lupércio, meu pai!”
Parece que eu havia sido seu genitor no passado! Permaneceu em pranto aos meus pés e aceitou a doutrinação, enfim. O instrumento – Dª Didi - precisou ser amparado pelo senhor Dimas que era o cambono e o senhor Antônio, então, o presidente do centro. Ela demorou muito a voltar à consciência naquele dia... Tampouco houve o encerramento convencional naquela reunião. Todos choravam ao sair e o paciente curou-se definitivamente de seu problema cardíaco.
Talvez a médium Elcyr possa relatar outra experiência quase divina com que fomos agraciados. Dª Didi incorporou com aquela que seria a alma gêmea de Emmanuel e a energia que desfrutamos nem pode ser narrada... Foi algo indescritível!
Lembro-me, ainda, que um dia fui levado a uma chácara, às 5 h da manhã, para um trabalho em meu benefício. Minha mediunidade se expandira de tal forma que precisaram fechar a minha cabeça. Eu estava permanecendo em perene desdobramento e isto estava atrapalhando o meu trabalho e o dia-a-dia.
Como espírita, nunca vi médium que se igualasse a Dª Didi. Ela desenvolveu todos os tipos de mediunidade e realizou trabalhos de cura e libertação que descreverei aos poucos...
Fim da primeira parte.