Dona Didi e neto Otavio, 95. |
A proposta de Carl Rogers para se
estabelecer a relação de ajuda é a de que existam três condições para a chamada
Abordagem Centrada na Pessoa (ACP). a) autenticidade, congruência ou
transparência; b) aceitação incondicional do outro, independente de virtudes e
defeitos que a pessoa possua; c) compreensão empática ou capacidade de se colocar no lugar da outra pessoa, percebendo os
seus sentimentos, quando ela está se
expressando.
Na primeira condição a pessoa
busca exprimir os sentimentos genuínos, sejam eles positivos ou negativos, sem
disfarces ou máscaras, para que haja espaço de confiança.
Na segunda, que não é fácil para
o ser humano, a proposta é de aceitar o outro como ele é, independente de suas
características,
visando ao crescimento da pessoa e da relação.
Filho e nora de Dona Didi, 2014. |
E, na terceira condição, é
preciso haver um ouvido ativo,
atento, interessado, para que o outro se sinta compreendido e tenha melhor possibilidade
de crescimento, o que não significa ter de concordar com a outra pessoa.
É um processo muito difícil, mas
a pessoa que detiver ao menos duas dessas capacidades tende a ter mais chance
de sucesso nas relações em qualquer campo de atuação. No atendimento voluntário
que realizamos no CVV, o ouvido atento é o mais poderoso instrumento para o sucesso
que nosso diálogo compreensivo.
Em Um jeito de ser (1983, p. 14), uma parte do que ele diz, no
capítulo Experiências em Comunicação,
parece traduzir bem a essência da Abordagem Centrada na Pessoa:
Fábia, neta de Dona Didi. |
[...] Um dos sentimentos mais
gratificantes que conheço - e também um dos que mais oferecem possibilidade de
crescimento para a outra pessoa - advém do fato de eu apreciar essa pessoa do
mesmo modo como aprecio o pôr do sol. As pessoas são tão belas quanto um pôr do
sol quando as deixamos ser. De fato, talvez possamos apreciar um pôr do sol
justamente pelo fato de não o podermos controlar. Quando olho para o pôr do sol,
como fiz numa tarde destas, não me ponho a dizer: "Diminua um pouco o tom
do laranja no canto direito, ponha um pouco mais de vermelho púrpura na base e
use um pouco de rosa naquela nuvem". Não faço isso. Não tento controlar um
pôr do sol. Olho com admiração sua evolução. Gosto mais de mim quando consigo
contemplar assim um membro da minha equipe, ou meu filho, minha filha, meus
netos. [...].
Aleixo, Regina e Celina, 2014. |
Este é um dos mais belos textos
de Carl Rogers. Experimentemos olhar o ser humano como se olha e aprecia um pôr
do sol! Não é fácil, dada a nossa tendência a projetar o outro de acordo com
nossas referências, percepções do ideal, enfim, nossas expectativas...
ROGERS, C. Um Jeito de
Ser; tradução de Maria Cristina Machado Kupfer, Heloisa Lebrão e Yvone
Souza Patto. São Paulo: EPU, 1983.
ROGERS, C. Tornar-se
Pessoa; tradução de Manuel José do Carmo Ferreira. São Paulo: Martins
Fontes, 1981.