quarta-feira, 3 de setembro de 2014

TÃO BELO QUANTO O PÔR DO SOL



Dona Didi e neto Otavio, 95.
A proposta de Carl Rogers para se estabelecer a relação de ajuda é a de que existam três condições para a chamada Abordagem Centrada na Pessoa (ACP). a) autenticidade, congruência ou transparência; b) aceitação incondicional do outro, independente de virtudes e defeitos que a pessoa possua; c) compreensão empática ou capacidade de se  colocar no lugar da outra pessoa, percebendo os seus sentimentos, quando  ela está se expressando.
Na primeira condição a pessoa busca exprimir os sentimentos genuínos, sejam eles positivos ou negativos, sem disfarces ou máscaras, para que haja espaço de confiança.
Na segunda, que não é fácil para o ser humano, a proposta é de aceitar o outro como ele é, independente de suas características,
Filho e nora de Dona Didi, 2014.
visando ao crescimento da pessoa e da relação.
E, na terceira condição, é preciso haver um ouvido ativo, atento, interessado, para que o outro se sinta compreendido e tenha melhor possibilidade de crescimento, o que não significa ter de concordar com a outra pessoa.
É um processo muito difícil, mas a pessoa que detiver ao menos duas dessas capacidades tende a ter mais chance de sucesso nas relações em qualquer campo de atuação. No atendimento voluntário que realizamos no CVV, o ouvido atento é o mais poderoso instrumento para o sucesso que nosso diálogo compreensivo.
Em Um jeito de ser (1983, p. 14), uma parte do que ele diz, no capítulo Experiências em Comunicação, parece traduzir bem a essência da Abordagem Centrada na Pessoa:                                                                                                      
Fábia, neta de Dona Didi.
[...] Um dos sentimentos mais gratificantes que conheço - e também um dos que mais oferecem possibilidade de crescimento para a outra pessoa - advém do fato de eu apreciar essa pessoa do mesmo modo como aprecio o pôr do sol. As pessoas são tão belas quanto um pôr do sol quando as deixamos ser. De fato, talvez possamos apreciar um pôr do sol justamente pelo fato de não o podermos controlar. Quando olho para o pôr do sol, como fiz numa tarde destas, não me ponho a dizer: "Diminua um pouco o tom do laranja no canto direito, ponha um pouco mais de vermelho púrpura na base e use um pouco de rosa naquela nuvem". Não faço isso. Não tento controlar um pôr do sol. Olho com admiração sua evolução. Gosto mais de mim quando consigo contemplar assim um membro da minha equipe, ou meu filho, minha filha, meus netos. [...].
Aleixo, Regina e Celina, 2014.
Este é um dos mais belos textos de Carl Rogers. Experimentemos olhar o ser humano como se olha e aprecia um pôr do sol! Não é fácil, dada a nossa tendência a projetar o outro de acordo com nossas referências, percepções do ideal, enfim, nossas expectativas...

ROGERS, C. Um Jeito de Ser; tradução de Maria Cristina Machado Kupfer, Heloisa Lebrão e Yvone Souza Patto. São Paulo: EPU, 1983.
ROGERS, C. Tornar-se Pessoa; tradução de Manuel José do Carmo Ferreira. São Paulo: Martins Fontes, 1981.

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