sexta-feira, 1 de novembro de 2013

FIM DE CICLOS



Regina e suas orquídeas.
A data de Finados é dedicada a homenagear nossos mortos. Recentemente assisti a uma parada no Rio em que as pessoas desfilavam vestidas a caráter representando zumbis de sua preferência. As gerações anteriores simplesmente costumavam homenagear seus mortos visitando os cemitérios reverenciando-os com flores e orações.
A morte é um dos temas mais controversos para nós, seres humanos. Nosso ego que é o núcleo da consciência traz ferramentas de controle e organização da realidade.  Isso é importante e até mesmo positivo. Entretanto, quando ele se depara com a morte, a falta de garantias e certezas desestabiliza o ego e dessa maneira somos forçados a buscar algum sentido, alguma
Aleixo, Regina, Renata, Clélia, Chantale. 
referência que diminua a nossa ansiedade e  o medo.
Seja pela arte, pela música e principalmente por meio dos rituais, o ser humano expressa criativamente sua angústia sobre o mistério da vida e cria soluções simbólicas e emocionais, a fim de criar referências que o confortem de forma mais ou menos duradoura. Por essa razão, as religiões têm tantos seguidores e cada vez mais novas religiões se constituem e se adaptam ao mundo atual. Na Psicologia Transpessoal tive a oportunidade de participar do workshop da Serra da Portaria que organiza um ritual simbólico ligado à morte, à vida e à transcendência.
A querida Helga mudou de andar em 2003
A cessação do misterioso e incontrolável fato da vida é aterrorizante para uns e motivo de alívio para outros. Sim, porque a morte é um fato da vida. Isto é, nós a conhecemos e sabemos de sua inevitável existência, ainda que não a tenhamos experimentado de forma objetiva e concreta.
E por mais que busquemos conhecer, nossas ideias sobre o assunto sempre serão muito individuais e singulares, mesmo quando são modeladas por alguma religião. As diversas religiões tratam da morte sob diversos enfoques e partindo de premissas diferentes, muitas vezes até opostas entre si, como as crenças que aceitam a reencarnação e as crenças que aceitam o processo de ressurreição e vida eterna no pós morte.
Flores na Shamballa.
O papel social das religiões sempre foi tecer uma linha de sentido para a morte, mas nem sempre esse caminho tem sido suficiente ou satisfatório. A própria palavra desperta o medo no coração das pessoas. Elas consideram a morte tão incompreensível quanto inevitável. Mal conseguem falar a respeito, perscrutar além da palavra em si e se permitir contemplar suas verdadeiras implicações.
Essa é uma reação compreensível, pelo fato de que tantas pessoas pensam sobre a vida como nada mais que um estado no qual o corpo humano está biologicamente ativo.
Lu, Marcos Loyola e Otávio, 11.08.2013
Mas é hora de nos perguntarmos: o que acontece após a morte, se é que acontece? O que a morte realmente significa? Como aqueles que sobrevivem aos entes queridos devem reagir?
O mistério da morte é parte do enigma da alma e da vida em si: entender a morte significa realmente entender a vida. Durante o período da existência carnal, o corpo é vitalizado pela alma; na morte, ocorre uma separação entre o corpo e a alma. Porém a alma continua a viver como sempre fez, então, livre das restrições físicas do
Dona Didi antes do desencarne.
corpo. E como o verdadeiro caráter da pessoa – sua bondade, virtude e altruísmo – estão na alma, é lógico presumir que ela ascenderá a um estado mais elevado após cumprir suas responsabilidades na terra.
A Física moderna nos ensinou que nenhuma substância realmente desaparece, apenas muda de forma. E há muita morte acontecendo ao nosso redor no dia a dia. O grande problema é que nunca fomos ensinados a falar sobre morte, a pensar e usar a morte certa como sentido da vida. Em vez disso, aprendemos a temer a morte, a nos apegarmos ao nosso corpo que, muitas vezes, é dirigido por convenções sociais que nem fazem tanto sentido assim para nós.

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