Filha de Dona Didi. |
Minha mãe costumava dizer que sua existência se dividia em antes e depois de se tornar espírita. Apesar de todo cristão se espelhar nos ensinamentos de Jesus, o espírita, geralmente, leva a sério a questão da reforma íntima e tenta se melhorar aparando as suas arestas com mais vigor!
Ela dizia que antes de conhecer o espiritismo, por exemplo, ela nunca tinha dificuldade com empregadas. Em sua época, as empregadas moravam no trabalho e dificilmente tinham folgas. Ajudavam os patrões sempre e eram fiéis, prestativas, a qualquer hora que eles necessitassem. Mais tarde, ela passou a ser mais flexível e dizia nunca mais ter encontrado funcionárias como as de antigamente. Claro, que isso tem muito a ver com a evolução, a conquista dos direitos trabalhistas, o crescimento do mercado de trabalho, entre outras coisas, mas Dona Didi preferia simplificar a sua teoria.
Didi, José Araujo e filho Marco, 1945. |
No dia seguinte, ela convidou a referida secretária para um chá em nossa casa. Ela foi e admirou o cuidado da mesa farta e bem posta, com porcelana legítima! Durante o chá, em meio a impropérios, a secretária foi brindada com chá quente no rosto e meu pai obrigado a despedi-la pela harmonia familiar!
O espiritismo não era bem visto naquela época. A cidade era pequena e os padres se incomodavam com os movimentos sociais dos espíritas! Um grupo da mocidade da Tenda do Caminho começou um trabalho semanal de arrecadação de alimentos. Eles passavam nas casas, no domingo pela manhã, e cada um doava o que podia. Eles costumavam deixar os saquinhos de papel da campanha Alta de Sousa para que simpatizantes recolhessem junto à vizinhança, facilitando o seu trabalho voluntário.
Filho Marco Antonio, 1952. |
Minha mãe nos matava de vergonha algumas vezes. Hoje, a gente sorri de suas idéias, lembrando-nos de suas colocações com carinho saudoso, mas era tão difícil concordar com algumas de suas afirmativas!
Imagina que ela dizia não acreditar que o homem tivesse ido à lua! E, o pior, é que não temia fazer estas declarações em público, para o constrangimento de seus filhos!
Oi Regi, vc agora vai ter mais um motivo de se envergonhar....rsrsrs
ResponderExcluirEu tbem não acredito que o homem foi a lua em 1969...é tudo marketing americano...
Agora, em 2010, quem sabe, mas em 1969, EU DUVIDO!!
Bjim, Sonia
sinceramente, mana Sônia...melhor não comentar...hehehe
ResponderExcluirfalando sério, mamãe tinha lá suas peculiaridades, mas também muita sabedoria. Ocorre-me aqui uma delas, que redundou em ensinamento para mim e que terminei adotando na minha vida. Ao contrário de mim, dona Didi usava sempre a mesma bolsa, onde ela carregava de tudo. Comprava um artigo de qualidade e o usava até se deteriorar. Em um de seus aniversários, ou dia das mães, não me recordo exatamente, eu passei uma tarde inteira procurando uma bolsa para presenteá-la. Foi uma compra sofrida, custei a encontrar a bolsa que imaginei fosse agradá-la, já que a que ela estava usando, estava pedindo há tempos uma substituição. Ela me agradeceu muito o presente e imaginei que tinha acertado na escolha. Dois dias depois, qual não foi minha surpresa ao encontrar a dita bolsa com a minha irmã Celina. Fiquei indignada e fui indagar a minha mãe a razão dela ter se desfazido de imediato do presente, que tinha me custado tanta dificuldade na escolha. Ela então me disse candidamente que a Celina estava precisando mais do que ela e que a partir do momento que eu tinha lhe dado o presente, ele lhe pertencia e podia dar a ele o destino que bem entendesse. Aprendi bem essa lição e hoje faço a mesma coisa quando ganho alguma coisa que entendo ser mais útil para outra pessoa. Esse desapego com bens materiais foi uma das melhores bênçãos que recebi da dona Didi e não me esqueço de agradecer ao seu espírito por isso. Que Deus a proteja sempre!