“Haverá um tempo exato
Em que o passado ecoará como cantiga de ninar
E trará de volta as lembranças adormecidas,
Mas sempre vivas.
Quando sentirmos saudades,
Haverá um sorriso...
Uma lágrima talvez...
E a estranha sensação de que nada,
Nada foi em vão”!
Lembro-me da alegria quando minha mãe arrumava seus cinco primeiros filhos e nos levava para um passeio até o coreto da Praça Cívica. Normalmente, ela carregava uma sacola com laranjas e bananas. Passávamos no mercado central que funcionava onde hoje é o Pathernon Center e ela comprava seis pastéis. Como era bom aquele cheirinho de fritura gulosa no saco de papel bege, molhado de gordura, e a expectativa da pequena aventura que empreendíamos! Ela dava as mãos para os dois menores, Sônia e Júnior, e os outros três se posicionavam de cada lado, também de mãos dadas com os irmãos. Eram uns sete ou oito quarteirões desde nossa casa até o local. Lá ela se sentava em um banco de granito e nós brincávamos na grama ao redor.
Repartia as bananas, descascava as laranjas para cada um, distribuía os pastéis e, às vezes, ainda comprava garapa. Sentíamos muito felizes com aquela liberdade vigiada! A gente não podia sair de casa a não ser para a escola e os passeios nos finais de semana em família. Papai construiu a nossa casa em um lote e o outro era devidamente cercado e plantado para nossas brincadeiras. Meu primo Luiz Roberto estava sempre lá em casa brincando com meu irmão, mas eram raras as oportunidades de encontrarmos outras crianças. Isso acontecia nos aniversários familiares, quando encontrávamos os primos, filhos de Tia Hilda e Tia Agda, irmãs de criação de mamãe. Papai tinha muitos irmãos, mas casou-se por último e demorou a ter filhos, portanto, os primos paternos eram muito mais velhos, exceto o Luiz Roberto, filho caçula de tio Venerando.
Dona Didi e seus netos, na Creche, 1985. |
Aos domingos mamãe costumava fazer macarronada com galinha caipira. Meu organismo sempre teve dificuldade de aceitar carne e ver o frango com ossos era demais para mim. Ainda mesmo porque víamos as aves sendo mortas. Minha irmã Clélia e eu ficávamos com dó das galinhas e mamãe, muito brava, mandava que saíssemos, porque acreditava que nossa piedade fazia a galinha demorar a morrer!
Minha mãe resolveu tirar carteira de habilitação, mas tinha dificuldade em direção. O coronel que a examinou no DETRAN conhecia meu pai e lhe repassou a responsabilidade. – “Só vou aprová-la porque é sua esposa, mas é bom treiná-la mais um pouco!” Meu pai resolveu obedecer e no final de semana durante um passeio ao Córrego Santo Antônio, onde fazíamos piqueniques, minha mãe sentou-se ao volante e conseguiu fazer o carro subir em cima de um morundu de cupim! Meu pai a criticou e acabou desistindo de ser motorista...
Uma experiência ímpar que tive com a minha mãe – Dona Didi – foi uma espécie de psicofonia. Naquela época eu já era casada e mãe de três filhos. Lecionava em dois ou três estabelecimentos e corria o dia todo na luta pela sobrevivência. Dirigia um velho fusca de um lado para o outro da cidade. Estava sozinha naquela ocasião, rodando pela Avenida Paranaíba em direção ao Setor Oeste. Assim que cortei a Anhanguera ouvi nitidamente, em som alto, a voz de minha mãe me chamando e me assustei subindo com o carro no posto de gasolina da esquina, à direita. Então, não entendi o que havia acontecido, mas fui salva de grave acidente de carro.
Como sabemos, psicofonias são supostos sons, como vozes, que não são perceptíveis ao ouvido humano, mas que podem ser registrados por algum tipo de gravador de som. Acredita-se que seja um fenômeno parapsicológico de transcomunicação instrumental e que se trate de um sistema de comunicação com seres e entidades que não percebemos. Depois, contando o que aconteceu a minha mãe, ela me disse que naquele momento ela estava rezando por mim. Ela orava pelos filhos o tempo todo!
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