domingo, 5 de setembro de 2010

MAIS SOBRE A DONA DIDI



"É nosso dever lembrarmo-nos daqueles a quem devemos nossa existência." Publílio Siro


Eu devia ter uns seis anos quando minha mãe começou a freqüentar o centro – a antiga Tenda do Caminho. Minha mãe era líder por natureza e assim que assumiu a sua mediunidade, foi desenvolvendo-a de formas múltiplas, a ponto de surpreender até os familiares que tinham contato diário com ela.

Didi, em 1996.

Ela sempre quis trabalhar fora de casa, mas meu pai não admitia. Era a cultura machista da época. Assim, trabalhando com a sua mediunidade e com a filantropia no centro, ela pôde dar vazão ao seu anseio de sair um pouco do ambiente doméstico.


Foi mãe de uma dedicação extrema. Éramos sete filhos, além dos outros que passaram lá por casa. Meu pai estava sempre ajudando os outros e lembro-me de que durante algum tempo, um pessoal da Buona Espero esteve hospedado em nossa residência, durante meses. Eles pertenciam ao um grupo de idealistas espíritas que veio do nordeste para fundar um aprendizado agrícola na Chapada dos Veadeiros. Eram pessoas educadas, defendiam o esperanto como língua universal, e esbarraram com algumas dificuldades devido à burocratização. Tinham conseguido a doação de um terreno, mas o processo demorou a se concretizar. O casal Renato e Beth ficou hospedado no quarto de meu irmão mais velho – o Marco – que tinha ido estudar fora, em colégio interno de Belo Horizonte. Eles eram vegetarianos e Beth estava grávida. Minha mãe se desdobrava em cuidados com sua alimentação e a presenteou com o enxoval do bebê.


Minha mãe tinha um vocabulário próprio e nunca soubemos se ela o adquiriu na infância em Minas ou com a convivência com meu pai e sua família que vieram do nordeste antes de se radicar em Goiás. Nós nos prometemos fazer um levantamento de seu vocabulário para uma futura postagem.


Quando ela era informada de que algo era bom para a saúde de seus rebentos, não hesitava em colocar em prática. Uma vez soube que as ampolas de AD Forte, usadas como injeção, evitariam surtos de gripe. Pois bem, éramos acordados antes de seis horas, obrigados a abrir a boca e engolir o remédio durante o período estipulado.
Clelia, Sônia, Regina e Didi, natal de 2001.
Todos nós ingerimos Emulsão de Scott para abrir o apetite ou fava de sucupira dentro do vinho reconstituinte para gargarejos no caso de infecção de garganta. Também experimentei a cura de uma gripe com limão. Começava com o suco de um limão e iam aumentando as unidades a cada hora. Depois, o mesmo, em ordem decrescente. Acho que a gente sarava logo para evitar que o tratamento se prolongasse muito!
Um exemplo de sua dedicação aos necessitados foi a tarefa diária que cumpriu amorosamente durante meses a fio, dando banho em uma mocinha internada no Hospital do Pênfigo. Ela tinha uma doença de pele rara e todo o seu corpo em feridas. Minha mãe ia lá todos os dias lhe dar banho e trocar o pano que a cobria, porque ela não podia usar roupas. Gracinha sarou e minha mãe a ajudou com o enxoval do casamento. Lembro-me de que minha grinalda da primeira comunhão foi doada para complementar o seu vestido de noiva.
Regina Lúcia de Araújo

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